Desafio sob a torre Eiffel
Quem nunca adoece pela Covid

Segundo o parecer do jornalista Ahmad Rafat, o Ocidente, depois de 20 anos de guerra exaustiva, doou o Afeganistão aos talibãs. Mas, junto com eles, um velho inimigo, o Isis (o Estado Islâmico), recupera forma e força. É por isso que a tomada de Cabul deve preocupar, igualmente, Roma, Paris, Berlim, Bruxelas e Washington.

Mas o que está acontecendo naquele país? A cidade de Herat entrou em colapso. Kandahar desabou. Dezoito, das 34 regiões do Afeganistão, entraram em crise. O Talibã acaba de conquistar Cabul. Mas o que fracassou, acima de tudo e de todos, foi a inteira humanidade.

A queda do Afeganistão não se deve apenas à corrupção galopante da classe política do país, ao embate entre a tradição e uma sociedade muito influenciada pelas redes sociais, e nem mesmo às lutas políticas e tribais de uma sociedade multiétnica com diferenças religiosas e linguísticas, mas, sobretudo, às escolhas políticas frequentemente erradas do Ocidente.

Um Ocidente, com os Estados Unidos na liderança, que em 2001, como vingança contra a Al Qaeda, pelos ataques covardes de 11 de Setembro, bombardeou o país, tirando o Talibã do poder, mas foi incapaz de ajudar os afegãos a construir uma sociedade moderna. Quando este Ocidente não conseguiu fazer isso, ele decidiu recuar, atrasando o relógio de 20 anos, destruindo os sonhos de centenas de milhares de afegãos, especialmente mulheres e jovens.

O republicano Donald Trump deu início ao caminho que hoje está entregando o Afeganistão ao Talibã, aos padrinhos iraniano e paquistanês, mas, curiosamente, a mesma política foi executada, na verdade acelerando os tempos, pelo democrata Joe Biden. Os Estados Unidos vêm tentando, há alguns anos, se livrar, o máximo possível, em algumas regiões do mundo.

O Afeganistão é uma dessas áreas. Os americanos caem fora, assim como seus aliados ocidentais da Otan, obviamente, com exceção da Turquia do neo-otomano Recep Tayyip Erdoğan. Porém, junto com o Irã dos aiatolás, também estão retornando os russos e o Paquistão. Esta mudança de estratégia dos EUA e do Ocidente, com certeza, levará as populações locais a pagar um preço muito alto.

Qualquer pessoa que tenha negociado com os talibãs, por dois anos, em nome dos americanos, gostaria de nos fazer acreditar que não foram eles, os talibãs, que governaram o país, antes de 2001, que romperam todos os laços com a Al Qaeda e que nunca fizeram alianças com o Isis. Dois grupos que há mais de duas décadas, com seus ataques e atividades terroristas, têm atingido vários países do Velho Continente, bem como do Oriente Médio e da África.

Nos últimos cinco anos, e mesmo recentemente, as forças de segurança afegãs prenderam algumas dezenas de líderes da Al Qaeda. A última prisão, data de 17 de abril deste ano.

A presença do Isis em território afegão é conhecida, igualmente, pelos serviços de inteligência ocidentais. Atualmente, 400 membros do Isis estão na prisão. De acordo com algumas fontes, 2 mil militantes do Isis do norte da Síria e do Iraque chegaram ao Afeganistão, em junho deste ano, e se juntaram ao Talibã e participam da recente ofensiva.

Ao entregar o Afeganistão ao Talibã, talvez os soldados americanos e europeus não sejam atacados no local, mas, certamente, logo após seu retorno ao poder, como em 2001, este país, o Afeganistão, se tornará, mais uma vez, uma base segura para organizações terroristas, graças ao produto das drogas. De fato, não deve ser subestimado o fato de que o Afeganistão é o mais importante produtor de ópio, e as organizações terroristas voltarão a atingir o Ocidente, como fizeram no passado.

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália) e editor da revista Italiamiga.