As tecnologias que levam à descarbonização e suposto direcionamento

A concepção racial do mundo e das relações internacionais, temperada pelo esoterismo, ocultismo e misticismo, teria levado os homens do Terceiro Reich a explorar toda parte do mundo, em busca de amuletos, artefatos sagrados, objetos milagrosos e lugares lendários. Porque o nazismo, antes mesmo de ser política, era religião. Uma religião impregnada de messianismo e violência purificadora. De todas as organizações que compunham o SchutzStaffeln, tanto o Allgemeine (SS Gerais) quanto o Waffen (SS Combatentes), a associação definida como Ahnenerbe – traduzindo literalmente: Herança dos ancestrais – despertou o maior interesse de historiadores e acadêmicos. Esta organização foi encarregada de provar, cientificamente, as teorias nacional-socialistas sobre a superioridade da raça alemã e de estudar todas as realidades definidas como “esotéricas” e “sobrenaturais”. Esta misteriosa organização nasceu em 11 de março de 1937, graças ao interesse de Heinrich Himmler e aos conhecimentos de Walter Wust, que, posteriormente, foi demitido de seus cargos por não estar totalmente alinhado com a linha militarista do partido.

Escrever e falar sobre o lado misterioso do nazismo é mais do que importante  é fundamental, porque somente analisando o que aconteceu nos bastidores do Reichstag, podemos compreender plenamente a lucidez dos empreendimentos, aparentemente bizarros, de Ahnenerbe. Nunca foram realmente esclarecidos feitos como a busca do Santo Graal e da mitológica Atlântida, ou a expedição ao Tibete e uma misteriosa missão na Amazônia.

Amazônia, o sonho dos alemães

Os motivos da viagem nazista à Amazônia, a expedição ao Jari em meados da década de 1930, não podem ser compreendidos sem um salto no passado de mais de um século. Porque a curiosidade alemã pelos mistérios, populações e tesouros perdidos da Amazônia surgiu em 1821, ano da publicação do livro Reise nach Brasilien (Viagem ao Brasil) do Príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied.

Viagem ao Brasil foi o relato de uma expedição pioneira ao coração da Amazônia, comandada pelo próprio príncipe Maximiliano, realizada entre 1815 e 1817, que o colocou em contato com uma das tribos menos conhecidas do homem ocidental: os botocudos. Uma tribo envolta num mistério fascinante, porque se situa nos meandros mais remotos do Pará e por ser totalmente pura, virgem, tanto que foi capaz de resistir a qualquer tentativa de assimilação, feita pelos portugueses.

Os botocudos eram selvagens, no verdadeiro sentido do termo, assim como guerreiros conhecidos pela violência fácil com estrangeiros, mas o príncipe, de alguma forma, conseguiu se tornar um deles, relatando o biênio em que morou na companhia deles, em um livro, que, posteriormente, entrou no imaginário coletivo alemão. Décadas depois, graças às relações cordiais entre o Brasil Varguista e a Alemanha nazista e à agenda esotérica da Ahnenerbe, os alemães voltariam ao pulmão verde do planeta.

Os preparativos

A história dos nazistas na Amazônia é a história da pouco conhecida expedição ao Rio Jari, nordeste do Brasil, missão Ahnenerbe, realizada de 1935 a 1937. Publicamente concebida com o objetivo de investigar as conexões entre a raça ariana perdida e as pré-civilizações colombianas, esta fui a missão confiada a um jovem e promissor explorador: Otto Schulz-Kampfhenkel.

Nascido em 1910, ou seja, tendo vinte e cinco anos na época da expedição no Rio Jari, Schulz-Kampfhenkel havia chamado a atenção da recém-nascida Ahnenerbe, por causa de uma viagem solitária feita na Libéria, documentada em um livro, que lhe rendeu o elogio da comunidade de geógrafos, antropólogos e zoólogos alemães. Heinrich Himmler queria desvendar os segredos das tribos perdidas, nunca contaminadas pelo homem europeu, talvez encontrar vestígios do mítico El Dorado, e Schulz-Kampfhenkel possuía tudo o que o Terceiro Reich precisava: gênio, idealismo, desenvoltura e imprudência.

Obtida a aprovação da presidência Vargas, os pesquisadores nazistas partiram para o Brasil em setembro de 1935. As expectativas eram muito altas, por isso a missão foi apoiada por vários patrocinadores: o governo brasileiro, o ministério da propaganda nazista alemão, a Sociedade Kaiser Wilhelm para o Avanço das Ciências e o Museu Nacional do Brasil. Para sobrecarregar ainda mais o jovem líder da expedição, Schulz-Kampfhenkel, os holofotes da imprensa mundial, não apenas a alemã, estavam sobre ele.

Luzes e sombras de uma expedição envolta em mistério

Em outubro de 1935 desembarcam em Belém do Pará três jovens aviadores alemães, acompanhados de 11 toneladas de bagagem. Eram eles Gerd Kahle, Gerhard Krause e o líder da expedição, Otto Schulz-Kampfhenkel. Os três trouxeram onze toneladas de suprimentos e no Brasil se deslocavam em um hidroavião Seekadett apelidado de “Águia Marinha”. A expedição se estabeleceu em Santo Antônio da Cachoeira, próximo à Guiana Francesa, a partir de novembro de 1935 para descobrir e cruzar o Rio Jari. Ajudados por um nativo aparai, apelidado de Winnetou por Schulz-Kampfhenkel, os pesquisadores conseguiram cruzar a fronteira com a Guiana Francesa e estabelecer residência temporária em uma aldeia aparai.

Ao longo de dois anos, ou seja, até 1937, exploradores alemães teriam feito descobertas sensacionais – incluindo acampamentos de nativos da etnia Wayan e Wayapi, até então considerada extinta –, documentado ritos e tradições de várias tribos e coletado artefatos úteis para o avanço da pesquisa etnoantropológica e zoo-geográfica.

Em 1937, porém, Schulz-Kampfhenkel teve que interromper os trabalhos, ordenando a seus colegas um retorno relâmpago ao acampamento-base, devido à propagação da malária e outras doenças tropicais entre os membros da expedição. Ele próprio foi vítima da epidemia, pois sofria de uma forma grave de difteria. Um membro da equipe faleceu devido à perixia, no caminho. Entre a foz do Rio Jari, no Amazonas, e sua deslumbrante Cachoeira de Santo Antônio há uma cruz de madeira, medindo três metros de altura por dois metros de largura, que, há alguns anos, é explorada como atração turística no Amapá. Debaixo dela jaz Joseph Greiner, ali sepultado em janeiro de 1936, vitimado pela selva.

Cansados, doentes e desmoralizados os homens de Schulz-Kampfhenkel voltaram para casa na Alemanha, em maio, com centenas de horas de filmagens e milhares de achados zoológicos – alguns dos quais ainda estão em exibição, hoje, no Museu de história natural de Berlim – e artefatos dos nativos.

As aventuras dos nazistas na Amazônia teriam feito a fortuna de Schulz-Kampfhenkel, cujos filmes se tornaram um longa-metragem de 90 minutos, produzidos pela produtora Universum Film AG (UFA) e cujas memórias foram imortalizadas em Rätsel der Urwaldhölle  (O enigma da selva infernal), um best-seller editorial, de 1938. Fim da história? Não. Com o fim da guerra, com o nazismo aniquilado, a paranoia da política francesa – que com certo descontentamento presenciou a entrada dos exploradores do Terceiro Reich, em seu território ultramar – teria encontrado a devida legitimidade, saindo dos campos da conspiração, devido ao surgimento da (chocante) verdade sobre o motivo da expedição no Rio Jari: uma missão preparatória para a invasão da Guiana Francesa, com a cumplicidade do Brasil Varguista e a ajuda das tribos amazônicas, missão que pode ser enquadrada no contexto mais amplo da agenda nazista para a América Latina!

Não se sabe por que o Projeto Guayana foi abortado, embora, muito provavelmente, um papel fundamental tenha sido desempenhado pelo esfriamento das relações entre a Alemanha e o Brasil – impulsionado pela persuasiva diplomacia estadunidense –, após do que, a presidência Vargas fechou suas fronteiras aos nazistas, confiando aos serviços secretos o ônus da caça aos 007 estrangeiros, operantes em território nacional.

Referências

https://de.wikipedia.org/wiki/Maximilian_zu_Wied-Neuwied

https://www.ecoamazonia.org.br/2014/01/nazistas-brasil-fotografias-nazistas-floresta-amazonica/

https://www.ecoamazonia.org.br/2013/01/nazistas-amazonia-historia-alemaes-desembarcaram-jari-1935-confusa-misteriosa-expedicao-cientifica/

(Fotos: O. Schulz-Kampfhenkel, “Rätsel der Urwaldhölle”, Dt.Vlg. 1938)