Por Edoardo Pacelli

Os Museus Capitolinos abrigam verdadeiros tesouros, obras de arte que são patrimônios da cultura, não apenas romana ou italiana, mas mundial.

Atenção particular merece uma estátua, criada na segunda metade do I século a.C., provavelmente cópia marmórea de uma obra helenística em bronze, o Gálata Morrente, feita pelo grande escultor grego Epígonos. Esta última obra, grega, pertencia, segundo vários arqueólogos, a um grupo escultórico que celebrava a vitória do rei Átalo I , sobre os gálatas, nome que os gregos deram aos Celtas que tentaram invadir a Ásia Menor.

O rei doou o conjunto ao santuário, em Pérgamo, da deusa Atenas, dita Nikesphóros, portadora de vitória! A atribuição da obra ao escultor Epígonos deve-se ao achado de fragmentos de inscrições, com a assinatura dele. Uma dessas inscrições indicava que a obra fora dedicada à deusa.

A presença de um típico colar, chamado torques (retorcido), demonstra que o guerreiro morrente é de origem celta. A identidade é igualmente confirmada pelos bigodes e, até, pela nudez do soldado, pois o povo batalhava despido. O homem, com uma ferida no peito, está à espera da morte, deitado, ainda apoiado pelo braço direito, sobre um escudo de forma oval, acompanhado por uma espada, um cinto com fíbula quadrada e um chifre quebrado.

A perna direita está dobrada e a esquerda levemente estendida. O equilíbrio da escultura deriva do braço direito apoiado no chão. O outro braço, dobrado, tem a mão apoiada sobre a coxa direita. O torso está voltado para a direita, e a cabeça, inclinada. O rosto é bem delineado, com traços fortes e marcantes. O homem está representado como guerreiro à espera da morte, superando, com coragem e altivez, a dor da ferida e da derrota.

A estátua foi descrita no ano 1623, numa relação dos bens de uma rica família romana, a dos Ludivisi, que morava na área chamada, outrora, Horti Sallustiani, pertencente a Júlio Cesar e, sucessivamente ao historiador latino Sallustio. Provavelmente, o fato de a estátua se encontrar no lugar que pertencia a Cesar indicava que seria consequência da comemoração de suas vitórias, nas guerras contra os gauleses, entre os anos 46 e 43 a.C.

No ano 1737, o papa Clemente XII comprou a obra e a colocou onde se encontra atualmente; porém, em 1797, Napoleão impôs a sua “venda” aos franceses. O gálata chegou à França, em 1798, e foi apresentado, triunfalmente, no ano 1800, durante a
inauguração do Musée Central des Arts, o Museu Central das Artes. Graças ao hábil trabalho do escultor Antonio Canova, naquele tempo diretor dos museus vaticanos, a estátua voltou, em 1816, para sua sede natural, em Roma, no reorganizado Museu Capitolino. A sala onde foi colocada foi chamada, erroneamente, de Sala do Gladiador.

A beleza desta obra-prima atraiu o interesse de artistas e de colecionadores de arte. A primeira cópia que se conhece foi realizada, em gesso, pelo pintor Velázquez, durante a sua estada na Itália, no ano 1650, solicitada pelo rei da Espanha, Felipe IV. O escultor francês Michel Monnier, que se encontrava em Roma, entre 1672 e 1682, realizou uma cópia em mármore, que foi enviada à França, onde se encontra, hoje, em Versailles (seria este o motivo pelo qual Napoleão quis se empossar do modelo original).

Várias cópias passaram a decorar, no século XVIII, salas ou jardins de muitas mansões da nobreza inglesa, assim como, em muitas Academias, que estavam eclodindo em toda a Europa, apareciam cópias em gesso de O gálata morrente!

A última viagem do guerreiro celta aconteceu no ano 2013 quando, por três meses, foi importante atração de inúmeros admiradores, na National Gallery of Art, de Washington.

Do libro: À descoberta de Roma”, de Edoardo Pacelli – Edições ITALIAMIGA