Por alguns dias, Roma voltou a ser Caput Mundi
Qualquer pessoa que teve a sorte de estar na Basílica de São Pedro, em 26 de abril passado, pôde testemunhar uma cena, que parecia um milagre. Sentados, um de frente para o outro, inclinados um para o outro, com o olhar fixo nos olhos, assentados em duas cadeiras, que surgiram do nada, sob o olhar benevolente de um alto prelado, estavam Donald Trump e Volodymyr Zelensky. Tudo aconteceu sob a cúpula da basílica, coração pulsante do cristianismo. A imagem, retratando os dois, permanecerá para sempre nos anais da informação. Os dois, com as mãos nos joelhos, conversavam e se escutavam. Que diferença há em relação à mesma cena que ocorreu, há algumas semanas, no Salão Oval da Casa Branca! Até Zelensky tirou seu uniforme militar, por um dia, quebrando sua promessa de tirá-lo quando a guerra acabasse.
Essa conversa intensa não representaria, talvez, o momento em que a paz parece ser vislumbrada? Não sabemos como vai terminar, mas a cena parece nos dar, pelo menos, essa ilusão. Sob o olhar de um Deus que está ali, mas não pode ser visto, estará talvez acontecendo o milagre de Francisco? Uma cena inesperada, mas que abre infinitas perspectivas.
Olhando mais de perto a cena, não podemos deixar de notar a postura incomum do chefe da Casa Branca. É a posição de alguém que está inclinado a ouvir a opinião dos outros. Que diferença da pose mantida em Washington. Estamos em outra Casa Branca, fora do resto do mundo. Neste espaço sagrado, onde séculos de história se passaram, o resto do mundo, por um momento, ficou por fora. Os dois tinham consciência do que estavam representando, naquele momento? Era uma ficção, ainda que divina, ou uma realidade?
Algo novo estava acontecendo. A vontade de poder parecia ter sido posta de lado, numa época em que Roma se encontrava, mais uma vez, Caput Mundi, reunindo a cúpula do mundo sob seu céu. Uma cidade viva, há milênios, e que se encontrou, mais uma vez, no centro das atenções, com a presença de mais de cento e sessenta representantes dos estados do planeta. De fato, não há organização, vista de um ponto de vista secular, tão atraente quanto a Igreja de Roma.
Claro, tudo isso acontecia à margem de um funeral, mas nos permite vislumbrar algo novo, um vislumbre de paz.
No olhar dos dois interlocutores podemos conjeturar um espírito novo, quase inesperado. Não foi um show, poeira jogada nos olhos dos observadores. Um espírito inesperado estava no ar. É claro que o diálogo acontecia dentro de uma basílica, no coração do cristianismo, durante um rito que se repete, inalterado, há séculos. Mas, por longos quinze minutos, parece que o mundo parou, esperando por um sinal, por um vislumbre de luz, em um mundo brutalizado pelos inúmeros conflitos, em andamento no planeta.
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