Há poucos dias fui convidado para comemorar o aniversário de um o amigo em um restaurante japonês no Rio. Eu era, na alegre e simpática companhia, o único que já havia estado no Japão. Enquanto os companheiros de mesa comemoravam, minha mente voltou no tempo e me perguntei o que havia sobrado daquela experiência de tantos anos atrás, o que me tinha impressionado e o que me estava faltando.
A resposta foi imediata: os extremos, os contrastes, a palavra dada, a responsabilidade, o não reclamar e a dignidade que te impede de ser vítima. Hoje nos falta estar cercados de respeito, por nós mesmos e pelos outros. Mas, também, o que impressiona é a maneira de se divertir e brincar, quase ingênua, sem necessariamente ter de provar algo para os outros. Falta-nos essa vontade de dar o nosso melhor, além, apenas, nas coisas sérias, sem pensar no que os outros estão fazendo ou pensando, sem ficar indignados e reclamar o tempo todo.
Em seguida, pensei na privacidade dos orientais, que também se revela na forma como cultivam a arte da tatuagem. É verdade que o mundo das imagens japonesas, sejam histórias em quadrinhos, mangás ou tatuagens, também está tendo grande sucesso. Porém, existe uma diferença fundamental entre o modo de viver a tatuagem, no Japão, e no resto do mundo. Aqui, prevalece a ostentação, enquanto no Sol Nascente a tatuagem permanece coberta, privada, invisível. Trata-se de um sinal para si mesmo, um dever do qual não se quer fugir, ou é a fidelidade a uma promessa.
Daí, atraído por várias mesas ocupadas por jovens, o meu interesse se voltou para eles, todos concentrados no vasculhar contínuo dos monitores de celulares.
O risco do jovem de hoje é se perder nas distrações da web, de ser enganado por influenciadores, falsos mestres que surgem com grandes soluções, mas na verdade, ganham às custas da juventude de nossos filhos, de seus sonhos e, portanto, do seu futuro. Este, portanto, é um golpe generalizado contra nossos jovens.
Assistimos, diariamente, na internet, a uma corrida para conseguir mais curtidas, ser seguido e, assim, monetizar e ganhar dinheiro. Pode-se chegar à conclusão de que a escola não ensina às crianças os meios de distinguir o verdadeiro do falso, de separar o que é valioso do que é tolo e barato. Essa, creio eu, é a corrente que os afasta de nós, como um flautista mágico, que tem mil faces. Gostaria que os meninos aprendessem a, realmente, ir contra a maré, a se prometer algo e a não trair o próximo, a nunca se trair a si mesmos.
Acho que a coragem de ser si mesmo seja uma arma de defesa muito poderosa contra um mundo cada vez mais cínico, cada vez mais complacente e conformista.